Expressar sua arte, conhecer pessoas e lugares diferentes graças ao seu trabalho e ainda poder ganhar a vida com isso é o sonho de muitas pessoas que se aventuram nos campos da fotografia. O ofício secular muitas vezes se confunde com um mundo de festas, entretenimento e glamour. Porém, assim como todas as profissões, a atividade lida com desafios novos a cada dia: graças a contribuição da tecnologia, com o advento dos smartphones dotados de câmeras cada vez mais potentes, registrar uma cena em questão de segundos está ao alcance de todos. Equipamento fotográfico mais acessíveis e diversificados democratizaram essa arte, colaborando para o surgimento de mais admiradores e aspirantes à fotógrafos. Se por um lado o recurso ampliou as possibilidades, por outro também influenciou no mercado de trabalho: concorrência cada vez mais acirrada, público exigente, necessidade de constante atualização e até mesmo a crise econômica enfrentada pelo país são apenas alguns entraves enfrentados pelos profissionais da área.
Arte x Técnica
A relação com as imagens tem tons de arte desde os primórdios da fotografia: há séculos a invenção substituiu os antigos retratos feitos à mão e, devido sua complexidade, se tornou tão singular quanto as obras feitas com tinta e papel. Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos tornaram o ato de fotografar algo relativamente fácil e corriqueiro, porém, sem alterar a sua premissa: a sensibilidade e técnica do profissional por trás da câmera são essenciais para que a foto seja encarada como arte. Essa é a principal motivação por trás daqueles que adentram na profissão, muitas vezes inspirados pela beleza por trás de um registro: “Minha paixão por fotografia surgiu através de uma foto que tirei em uma viagem: estava com um amigo em uma praia deserta e tinha um monte de gaivotas na areia. Pedi para ele sair correndo para fazer elas voarem, peguei a câmera e registrei a cena. Quando revelei, achei a coisa mais linda do mundo.” – explica a estudante de fotografia Thatiana Rodrigues.
Muitos adentram na profissão motivados pelo hobby e encaram um longo processo de aprendizado, na maioria das vezes, por conta própria. O fato é que por mais que o ofício esteja intimamente ligado à destreza do fotógrafo, a técnica também é essencial para formar este profissional – “a arte é objeto de estudo desde sua invenção e diversos elementos que compõem seu produto final fazem parte de práticas que influenciam diretamente no resultado da foto “– enfatiza Celso Pereira, fotógrafo há 25 anos. Isso reflete diretamente no mercado: de acordo com o Ministério da Educação (MEC), atualmente existem cerca de 114 cursos de graduação em atividade no país nas mais diversas modalidades – desde técnicos e bacharelados à especializações na área. Uma das grandes questões dessa profissão é justamente o quanto a certificação é fundamental no trabalho do fotógrafo, uma vez que diversos profissionais, especialmente os de longa data, dominam a arte de forma autodidata. Por outro lado, as câmeras fotográficas – itens orgânicos dessa profissão – estão cada vez mais automatizadas, permitindo que até mesmo uma pessoa sem muita intimidade com as técnicas tire fotos razoáveis. Justamente por isso, o conhecimento das práticas, da tecnologia envolvida e dos próprios nichos da fotografia podem representar a linha tênue que separa o amadorismo da atividade profissional.
Estudo é tão essencial quanto investimento
É fato que a paixão de muitos por este universo também surge após o primeiro contato com uma câmera mais robusta. “Os recursos que um equipamento fotográfico profissional ou semi profissional oferecem podem levar muitos amadores a acreditarem que basta comprar um equipamento caro que ele dará conta do recado. Tanto que é comum ouvir pessoas falarem que a foto ficou bonita porque seu equipamento é profissional, menosprezando a técnica do profissional por trás do registro.” – aponta Celso. Para ele, tão essencial quanto ter um bom equipamento é se dedicar ao estudo dessa profissão, não somente para entender elementos essenciais como a luz do ambiente, as formas, as cores e demais itens que influenciam na estética da foto, mas também para desmistificar determinadas informações que podem levar até mesmo a escolha do equipamento errado: “Ainda existe o mito de que a quantidade de megapixels determina a qualidade da câmera ou que quanto maior o sensor, melhor o equipamento. Essas crenças são bastante comuns e caem por terra quando a pessoa passa a estudar mais e conhecer a fundo tanto técnicas quanto tecnologias. Dessa forma o profissional se torna apto tanto a escolher o equipamento mais adequado à suas preferências e necessidades, quanto a utilizá-lo da melhor maneira” – conclui.
O diploma faz diferença?
E quando se fala em estudo, não se trata diretamente da necessidade de formação técnica ou superior. Boa parte, senão a maioria dos fotógrafos brasileiros, são autodidatas ou provenientes de áreas relacionadas como Comunicação, Jornalismo e outras artes. Porém, nos últimos anos, o crescente interesse pelo assunto resultou num aumento expressivo no número de escolas e faculdades oferecendo cursos sobre o tema. O fenômeno é extremamente benéfico à profissão, uma vez que valoriza o profissional por trás das lentes da câmera, porém, não é garantia de sucesso. Devido à concorrência desenfreada do mercado, até mesmo fotógrafos graduados tem que lutar diariamente pelo seu lugar ao sol. Formado há 4 anos, Denis Gonçalves acabou optando por trabalhar como freelance devido às dificuldades do mercado “Se por um lado a tecnologia traz inovação, por outro aumenta significativamente o número de profissionais, especializados ou não, no mercado. Além disso, baixa disponibilidade de cargos fixos em agências ou empresas faz com que boa parte desses profissionais concorra por um mesmo tipo de área, sendo que a fotografia é muito ampla. Assim, eventos sociais e casamentos, por exemplo, acabam se tornando a principal opção de quem precisa pagar suas contas e seguir exercendo a profissão.” Para Denis, apesar de não ser fórmula para o sucesso, especializar-se na área pode ser um grande diferencial na hora de fechar contrato: “o cliente tem mais confiança no seu trabalho” conclui.
Os desafios do mercado brasileiro
Crise do emprego e adaptação
Não é novidade que o país enfrenta uma das piores crises do emprego das últimas décadas – e com os profissionais da área não seria diferente. O grande problema é que o mercado fotográfico já sofre com a transformação da era digital há tempos: áreas que outrora geravam alta demanda como o fotojornalismo e o banco de dados foram totalmente impactados pela popularização da tecnologia, encolhendo as vagas para os profissionais do ramo. Agora, diante da queda acentuada de postos de trabalho e da queda do consumo da população, a tendência é que a oferta de profissionais no mercado cresça ainda mais – muitos optam por transformar o hobby em profissão, concorrendo por eventos sociais ou ensaios temáticos. Para Celso o momento requer adaptação “Em tempos como esse, o fotógrafo deve se reinventar e investir na criatividade para agradar o cliente e conseguir vencer os entraves do mercado acirrado. Por ser tão democrática, a fotografia atinge diversas atividades e orçamentos.” Para o profissional, isso não implica em “nivelar a profissão por baixo”, mas amplia o mercado para vários perfis de consumidor.
O custo da tecnologia
Quem é fotógrafo sabe bem: investir em equipamentos fotográficos é essencial para o aprimoramento do trabalho e para própria credibilidade do profissional. Porém, os custos com tecnologia não são baixos: normalmente importados, esses equipamentos sofrem influência direta da variação do dólar. Tanto que em tempos de economia mais estabilizada as câmeras profissionais estavam entre os itens mais “encomendados” nas visitas ao exterior. Agora, já não vale tanto a pena trazer o equipamento na bagagem: as diferenças exorbitantes de outrora tiverem uma leque caída – é possível encontrar câmera semi profissional como a Nikon D3200 por preços competitivos por aqui. O motivo para isso é que o câmbio flutuante e os custos adicionais da despesa em moeda americana podem tornar o equipamento até mais caro do que o comercializado nacionalmente “Além de ser ótimo para o mercado interno, o profissional também é beneficiado: por ser um item de alto investimento, comprar no próprio país garante maior segurança caso ele tenha que recorrer a garantia do equipamento.” – comemora Nizar Escandar, empresário do ramo. Porém, o fotógrafo brasileiro deve habituar-se com o investimento elevado da profissão, ainda mais por se tratar de uma atividade dependente de inovações tecnológicas – “não está mais barato, está apenas menos caro comprar no mercado nacional.” – explica o diretor da eMania – Foto e Vídeo.
Projeto de regulamentação da profissão
Bastante polemica, a questão da regulamentação da profissão é o alvo do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 64/2014 do deputado Fernando Torres, a PLC estipula que o fotógrafo profissional é aquele que “com o uso da luz, registra imagens estáticas ou dinâmicas em material fotossensível ou por meios digitais, com a utilização de equipamentos óticos apropriados, seguindo o processo manual, o eletromecânico e o da informática até o final acabamento”. O texto ainda determina que serão reconhecidos como profissionais regulamentados somente aqueles com formação técnica ou superior, além dos profissionais não diplomados que comprovem por meio de documentos ou registro de pagamentos o exercício da atividade há pelo menos dois anos antes do vigor da Lei. O texto ressalva a atividade de fotojornalismo, uma vez que não existe obrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão relacionada. Parado desde setembro de 2015, o projeto aguarda apreciação do plenário da câmara e pode impactar o diretamente a atuação desses profissionais. Para alguns, a regulamentação resolveria o problema de saturação do mercado, porém para outros, pode resultar em mais burocracia e custos com a manutenção da profissão. Cabe a todos aguardar o andamento do PLC e esperar para ver o quanto ele afetará este nicho.
Fonte: eMania